15.12.15

paralelos

vc estava por perto
na balada, sem camisa
lindo, como nunca havia notado
faltavam poucas horas para a sua partida
trágica e gratuita
um hospede maldito ceifou a sua vida

uma faca havia sido apontada para mim dois dias antes
mas era por fome, por desespero
me levaram um iphone 6s recém comprado e mais 400 reais em dinheiro
mas minha vida, minha grande preciosidade, está aqui comigo

mas essa facada
por apego, controle, ciúmes

o amor que mata é nocivo
que clama por exclusividade e se ofende com a fluidez do desejo

o amor omicida que mata pra comer
pra se vingar

amor ressentido cheio de galhos

a faca apontada por fome não me furou
a faca apontada por amor, matou

descanse em paz

10.3.15

labirintos

A física quântica ou a visão mística do mundo defendem, entre outras questões, duas leis fundamentais que penetram nossa percepção de tempo e espaço bidimensionais:

1) A lei da atração

2) A lei do retorno

Somos, como seres conscientes, emissores e receptores de sinais que se entrecruzam com outros serem conscientes, e por que não, inconscientes, e foram um novelo invisível aos olhos, mas perceptível a outros sentidos, que formam labirintos mutantes que nos conduzem ao que chamamos destino.

Temos habilidades e desenvolvemos ferramentas que ampliam nossa capacidade de interferência no tecido social que habitamos. Supostamente somos detentores de um livre arbítrio para decidir as próprias direções que tomamos e geralmente somos instruídos para suportar e superar as inevitáveis quedas que ocorreram no percurso de nossa biografia.

Para a primeira lei acima descrita, conseguimos atrair situações que desejamos, seja qual for o preço que será cobrado por aquele desejo. O universo, abundante e infinito, providenciaria a realização daquele desejo, cobrando em troca algo que tenha igual valor para o imaginário do desejante, pois a satisfação de todos os desejos é a morte, evitada por qualquer organismo sadio.

A segunda estaria ligada a primeira. Pois tudo o que você emite, ou omite, tende a voltar em proporções maiores, como um bumerangue que encontra uma rajada de vento favorável para retornar a sua origem.

Nossa percepção limitada de tempo e espaço seria uma cortina que oculta esse princípio básico do funcionamento deste ambiente em que estamos confinados. Por maior que seja, por mais diferentes que essa nossa espécie pareça, estamos dividindo a mesma gaveta e seguimos uma agenda que, talvez, não esteja explicitamente catalogada, mas nos impõe regras que, infelizmente, são inegociáveis.

Estamos presos temporariamente a um invólucro com data marcada para deixar de existir. Elixires existem e prolongam a estadia de alguns poucos afortunados, porém todos deixaremos para trás essa noção de indivíduo que nos acompanha entre o útero e a cova. Vamos voltar ao pó aos 10, 20, 30, 50, 80, 100, 150, 330, 700 anos. Ficaram as histórias que reverberarem em outros organismos, respeitando regras que só essa tal elite espiritual compartilha.

Dizem que se você consegue pensar, apesar de todo o peso corporal, você seria muito mais ágil caso fosse apenas uma fagulha de pensamento, uma alma livre, leve e solta. Poderia então viajar entre flashes de consciência e interferir no plano dos inquilinos da matéria como um polvo com tentáculos enfiados em buracos da minhoca que ligam ambientes e situações.

Mas o tempo que permanecemos neste jardim corrompido nos habilita a construir os alicerces do discurso pós morte, desperdiçar qualquer sopro de vida tornaria aquele potencial de discurso em apenas uma fração do que poderia vir a ser.

Aprendemos todos os dias e o encontramos nesse labirinto mutante aquilo que desejamos, mas a satisfação plena do desejo é naturalmente evitada para alimentar a chama de uma libido que não pode apagar.

Queremos o que não temos e perdemos tudo aquilo que acreditamos que temos. Como um diretor fanfarrão, caímos em armadilhas que nem sempre são negativas, já que de alguma forma, vivemos nada mais do que a experiência do movimento rumo a uma dimensão que nós mesmos projetamos.

Customizados nossa novela e somos cobrados na mesma proporção da nossa força propulsora. Se não estiver a fim de enfrentar grandes desafios, sem problemas, só não tente interferir no caminho daqueles que estão obstinados por entender o poder do momento presente.

1.2.15

O sal da terra

Bota a cara no sol
E fica um pouco antes na sombra
O tempo necessário pra vc descobrir
O endereço do seu fauno, da sua musa, do seu demiurgo
Lip-sync time como uma boa drag da perifa
Que apanhou o suficiente pra aprender a bater
Ou somente criar as condições pra realizar o seu desejo
Mas a consciência, essa menina mimada
Que acha que tudo sabe, tadinha, ingênua
É miope, baixinha, lentinha
Se esforça pra saber de tudo, mas no fundo não sabe nada
Segue regras que pouco conhece
Mecanismos de recompensa
Que envolvem dores físicas e psicológicas
E prazeres carnais e espirituais
Eu não preciso da sua presença física pra saber que você me preenche
Pelo menos essa imagem que ficou aqui armazenada
Um QR code com a nossa história
Que o fim esteja distante
Que eu te veja envelhecendo
Se movi tantas coisas pra estar mais perto
Nunca mais estarei distante
Um dia eu te cato

Despedidas

O que nos falta também nos une
Eu sei a falta que o seu pai faz, ou vai fazer, por que já me despedi do meu há algum tempo
As lagrimas que correrão o seu rosto, talvez, já caíram na minha cara
A água tornar-se-a rara pra mim e também pra vocês
A percepção de unidade fica mais nítida quando dividimos os mesmos buracos
O crowdsourcing de brainstorms em mesas de bar
Problem solving por instinto
Essa sabedoria que ninguém nos ensina
Aquela voz que sempre nos guia, mesmo quando está muda
Inteligência emocional aplicada na prática
A dilatação do seu mecanismo de desejos
Que colocam em movimento futuras carcaças
Antes do descanso, o trabalho
segue os exemplos que brilham aos seus olhos
nem todos estão certos, tampouco errados
errantes entre duas dimensões finitas
quando os olhos se fecham
os pássaros voam 

13.9.14

Double rainbow

Em 2014 dois incidentes inflamaram discussões por serem prematuramente tratados como casos de homofobia. O primeiro, para quem já esqueceu, foi aqui em São Paulo, o laudo final mostrou que o garoto cometeu suicídio. O segundo, mais recente, tem indícios de crime passional, pois o assassino confesso declarou que desentendeu-se com a vítima após uma relação sexual.

Os dois casos me chocaram, em principio, mas assim como no primeiro, sinto um desconforto enorme em notar que alguns lideres LGBTTTI (detesto essa sigla) apontaram o dedo com violência para um inimigo que, ao menos nessas histórias, não foi o culpado. Nos dois casos o oponente não estava do lado de fora. Nos dois casos houve uma comoção grande e pouco foi dito após a conclusão dos inquéritos.

O meio gay está longe de ser uniforme e unido como qualquer outro grupo que sofra com estigma social. A própria sigla que representa o movimento mostra o quanto ele é heterogêneo, quando na verdade, nos padrões “heteronormativos”, somos todos farinha do mesmo saco. 

E sabe de uma coisa? Acho que somos mesmo!

Não sou menos gay que uma travesti ou um transexual. Não me sinto representado nessa sigla medonha. Cada vez mais tenho preguiça de levantar uma bandeira colorida quando percebo que no próprio meio existe um preconceito social muito forte. 

Se você não sofreu ainda esse tipo de preconceito, asseguro que ele incomoda tanto quanto os demais. Deixa cicatrizes profundas, marcas invisíveis, constrangimentos que o tempo custa a apagar. Dói do mesmo jeito.

Não acho que exista espaço para dignidade enquanto você se vitimiza. O papel de vítima pode ser bem mais confortável aliás, pois você se restringe à defesa, enquanto não cria oportunidades para aprimorar outras características do grupo. A vítima geralmente transfere para o seu oponente todos os aspectos que não quer enxergar em si própria. Quisera eu que isso não fosse novidade para ninguém.

Ando bem cansado de bichas que ficam apegadas a essa luta contra algozes que, talvez, não são mais tão poderosos assim. Definitivamente, essas lideranças não me representam somente por carregarem as cores do arco-íris. A propósito, se tem um nicho que precisa com urgência de um toque de sofisticação é esse. Menos glitter, mais bom gosto e bom senso. 

O mundo precisa de menos pessoas nos extremos. PFVR!

Independente do seu gênero, religião ou orientação sexual, quando mais radical o seu discurso, mais violência isso gera.

Que o futuro traga mais pessoas dispostas a dialogar, ouvir, e não a falar mais alto. Indivíduos que reverberem menos os ataques dos pastores/opositores e invistam mais em práticas que ressaltem os aspectos positivos desse nicho, pois talento e criatividade são abundantes nesse grupo. Isso sim impõe respeito.

3.9.14

corrida eleitoral

Esse deus evangélico messiânico não me intimida, assim como qualquer indivíduo que se julgue pertencente ao grupo dos "melhores". Seria cômico se todos que pensam assim adotassem o termo TOP: uma equipe de governo TOP, pra um país dos TOPs. 

Apenas rindo.

Deve ser bom viver nesse país onde nossa dignissima presidente habita, mas pelo menos um punhado de publicitários estão com renda garantida devido ao investimento pesado em propaganda. Investimento esse que falta por parte da classe média empresarial, que sabe reconhecer valor nos bens de consumo dos paises ricos mas não se esforçam muito para gerar valor agregado na produção local.

As macumbas que lotam a praça do lado da minha casa inviabilizam qualquer tentativa de fazer um simples picnic. Isso sim é muito triste.

Ética não é uma tabela regulamentando o que é certo ou errado, ela tampouco existe quando um só indivíduo consegue articular suas ideias no grupo, ou quando seus argumentos não são confrontados com outros pontos de vista.

Se você não gosta de falar de política, o problema é meu também.

Se você acha que a sua crença é perseguida e injustiçada por outos grupos religiosos, olhe um pouco pro próprio rabo para perceber onde falta civilidade também nas suas práticas ancestrais.

A propósito, direção de arte, design, identidade visual, são práticas de civilizações avançadas. então amigx, não venha vender sua verdade (ou sua empresa) com esses panfletos feitos nas coxas, me convidando pra por meus pés nesse templo (ou loja) cheio de goteiras.

Esse desmazelo camuflado de humildade é isca pra segurar zumbis que já perderam a capacidade de se queixar da vida e agradecem qualquer migalha que lhes é oferecida, como se fossem oportunidades.

O meu deus, ou melhor, os meus deuses, não fazem da minha vida um mar de plenitude. Me confundem, regulam os momentos felizes, enchem o meu cotidiano de desafios e fazem o possível para eu continuar faminto em busca de novidades.

Só pra eu não esquecer que tudo é impermanente.

Pra eu lembrar que não sou um zumbi, desses que sentem gratidão por tudo, mas tentam desesperadamente papar a cabeça dxs colegxs.

Pra deixar bem claro que ainda estou vivo, logo, sofrerei, errarei e continuarei sendo sempre imperfeito, por mais puros que sejam os meus princípios e valores conscientes.

E também pra eu valorizar cada raro momento de felicidade que surgir nos dias que me restam.

Quando algo não estiver bom, que eu seja pró ativo em promover alguma mudança.

Que assim seja.

27.7.14

Fatos de amor em SP

amanhece na cidade de são paulo. 

uma pequena multidão se aglomera na porta da estação consolação do metro. são jovens de vários pantones e figurinos que esperam com um certo ar de resignação a hora certa onde as catracas serão abertas. o caminho de volta nem sempre é curto e uma jornada mínima de dezenas de minutos fazem todos atravessarem túneis em velocidades altas, cruzando a cidade e intercruzando vidas.

um casal de garotos, ou homens, permanece grudado, entrelaçados, como sempre fazem quando se encontram fisicamente. ficam tempos sem se ver, mas quando estão juntos, estão unidos. a proximidade física é só um dos indícios de uma intimidade que vai além da amizade. São duas vidas que se descobriram e simplesmente gostam de estar juntas. não estão preocupadas com julgamentos nem precisam ostentar aquilo que possuem em conjunto. é natural, flui. 

uma senhora, por volta dos seus 40 anos de carreira, aparentemente já vivida em amores e histórias de longo prazo, chama um dos meninos, ou homens, e diz, em tom isento de qualquer ironia: vocês estão certos, são livres e estão juntos. felizes, dá pra perceber. vão fazer um montão de gente passar inveja.

o jovem, ou homem, que escutou, tenta agradecer da forma mais honesta aquelas palavras tão amorosas. sentiu-se admirado por não ter vergonha de algo tão natural que estava acontecendo. o mundo daqueles dois indivíduos, ou homens, fazia mais sentido quando estavam juntos. 

apenas. 

não precisavam justificar nada um para o outro. as atitudes de cada um diziam isso nas entrelinhas.

a senhora, não satisfeita, pediu gentilmente que o rapaz contasse ao se companheiro aquilo que ela tinha confessado. ele conta do jeito dele, faz um haikai das frases dela. agradece mais uma vez. só encontra admiração naquele olhar, meio materno, meio fraterno. quem invejaria a coragem, o encontro, a sintonia, aquele momento tão precioso onde estamos um pouco menos sozinhos?

momentos onde amamos.

apenas.

os rapazes, ou homens, descem na estação que os levará para a casa de um deles. aquele que recebeu o depoimento tenta se despedir da senhora. ela não está olhando. ele lembra mais uma vez aquelas raras palavras de carinho gratuito, incomuns em uma cidade gelada como são paulo. 

elas ecoam, como sinos.

elas só disseram algo que já estava escrito, talves. 

como toda história entre duas almas que se cruzam e aprendem uma com a outra. quando acham que é história de outras vidas, voltam a acreditar em almas gêmeas, em algum propósito maior para essa curta passagem terrena.

o dia começou bem para aquela senhora.

o dia acabou melhor ainda para aquele casal que não se desgrudou nas próximas horas daquele domingo de céu azul e ventos gelados da capital do estado de sp.

12.5.14

eleito

não quero ser perfeito
quero ser o seu prefeito
cuidar de uma parte do seu corpo
zelar para que ela floresça a cada dia
vamos educar nossos herdeiros
naquele sobrado tranquilo na vila

rg

estava morimbundo
batendo a cabeça nas paredes
você surgiu no meu mundo
e em tão pouco tempo permitiu que eu fosse tão fundo
parabéns por aquele dia
fogos estouravam na minha janela
te dou comida, toalha lavada
dorme ao meu lado, fica em silêncio comigo
me diz o seu verdadeiro nome
e inventa pra mim um codinome

paralelos

o seu coração é de gelo
e o meu é de concreto
gelo seco que não derrete
cimento queimado, tubulação de cobre aparente
vamos dividir o mesmo banheiro
frequentarmos a mesma cozinha
te como de manha, em qualquer hora do dia
não precisará mais fazer terapia
sabe mesmo o que eu acho?
você encontrou aquilo que queria

sopa

quero curar essa sua amargura
esse medo de ser abandonado
largado, estilhaçado por dentro
inspira-lo a escrever textos tão lindos
ensina-lo a olhar no fundo dos olhos
daqueles que querem o teu bem
e não os teus bens
mas não permitirei que desconte em mim
aquilo que sofreu com outros corpos
prometo não transferir também as minhas mágoas
beijo as tuas cicatrizes, cuide bem das minhas
não somos nós os impermeáveis
você acha que é o único machucado
e defende-se por trás desse desinteresse
eu nunca mandaria você embora
já que chegou tão longe, sei lá eu se já é um hábito
não teria graça se fosse perfeito
nem se fosse também tão bonito por dentro
as tuas sombras ornam com as minhas
o que fizemos é mais gostoso que coxinha
esquece aquele pequeno
vem descobrir como sou grande
mas nada te darei de mãos beijadas
se não olhar minha timelinda
continuará aí, chateado
deixa de ironia, esquece essa soberba
vamos descobrir juntos se vale a pena

Medievalismos

Povo tem medo de magia negra mas defende justiça com as próprias mãos. 
Paradoxo que se repete nos círculos dos fanáticos de cabeça oca.
Linchamento oral já estava mais na moda do que essa atividade prática.
Queimam as bruxas os puros e justos.
Seres do bem que agem nas trevas.
Mensageiros da justiça soberana divina.
Protetores da ordem e das virtudes.
Em terras bárbaras quem vence é o vizinho.
Que aguarda a ruína de uma família desunida.
Cada um por sí, corre enquanto o ouro for seu.