amanhece na cidade de são paulo.
uma pequena multidão se aglomera na porta da estação consolação do metro. são jovens de vários pantones e figurinos que esperam com um certo ar de resignação a hora certa onde as catracas serão abertas. o caminho de volta nem sempre é curto e uma jornada mínima de dezenas de minutos fazem todos atravessarem túneis em velocidades altas, cruzando a cidade e intercruzando vidas.
um casal de garotos, ou homens, permanece grudado, entrelaçados, como sempre fazem quando se encontram fisicamente. ficam tempos sem se ver, mas quando estão juntos, estão unidos. a proximidade física é só um dos indícios de uma intimidade que vai além da amizade. São duas vidas que se descobriram e simplesmente gostam de estar juntas. não estão preocupadas com julgamentos nem precisam ostentar aquilo que possuem em conjunto. é natural, flui.
uma senhora, por volta dos seus 40 anos de carreira, aparentemente já vivida em amores e histórias de longo prazo, chama um dos meninos, ou homens, e diz, em tom isento de qualquer ironia: vocês estão certos, são livres e estão juntos. felizes, dá pra perceber. vão fazer um montão de gente passar inveja.
o jovem, ou homem, que escutou, tenta agradecer da forma mais honesta aquelas palavras tão amorosas. sentiu-se admirado por não ter vergonha de algo tão natural que estava acontecendo. o mundo daqueles dois indivíduos, ou homens, fazia mais sentido quando estavam juntos.
apenas.
não precisavam justificar nada um para o outro. as atitudes de cada um diziam isso nas entrelinhas.
a senhora, não satisfeita, pediu gentilmente que o rapaz contasse ao se companheiro aquilo que ela tinha confessado. ele conta do jeito dele, faz um haikai das frases dela. agradece mais uma vez. só encontra admiração naquele olhar, meio materno, meio fraterno. quem invejaria a coragem, o encontro, a sintonia, aquele momento tão precioso onde estamos um pouco menos sozinhos?
momentos onde amamos.
apenas.
os rapazes, ou homens, descem na estação que os levará para a casa de um deles. aquele que recebeu o depoimento tenta se despedir da senhora. ela não está olhando. ele lembra mais uma vez aquelas raras palavras de carinho gratuito, incomuns em uma cidade gelada como são paulo.
elas ecoam, como sinos.
elas só disseram algo que já estava escrito, talves.
como toda história entre duas almas que se cruzam e aprendem uma com a outra. quando acham que é história de outras vidas, voltam a acreditar em almas gêmeas, em algum propósito maior para essa curta passagem terrena.
o dia começou bem para aquela senhora.
o dia acabou melhor ainda para aquele casal que não se desgrudou nas próximas horas daquele domingo de céu azul e ventos gelados da capital do estado de sp.
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