17.1.12

A abusada adormecida e a volta de Luiza

Em tempos de conectividade alguns padrões são mais fáceis de detectar. O caos encontra sua própria ordem em raros instantes. Sinapses coletivas elegem algo banal como resposta a uma mensagem difundida nas grandes centrais de distribuição de informação. Quando maior o alcance, maior a intensidade da resposta.

Indivíduos despertos questionam o que foi dito e reagem preservando seus próprios interesses. Quando mais acordado, maiores suas chances de reconhecer o comando cifrado na mensagem recebida. Domínio da linguagem, reconhecimento do instinto e senso crítico são habilidades construídas com dedicação individual. Quem tem medo de ficar sozinho perde oportunidade de exercitar essas ferramentas.

Se por um lado tantas pessoas se manifestam sobre um fato manipulado em um programa de entretenimento, fazendo suas próprias versões e rasas teorias sobre as vítimas e algozes, o inconsciente - individual e coletivo - devolve em imagens sempre bem humoradas e irónicas a resposta para uma polêmica tão passageira quando uma bolha de sabão.

Ai se eu te pego, assim você me mata. Dormir na mesma cama que alguém com tensão sexual. A personagem feminina agora não está mais mergulhada nas águas geladíssimas de Roqueta del Mar. A Lilith do imaginário coletivo está no Canadá. Foi apresentada pelo pai que usa a imagem da família para dar crédito a um empreendimento imobiliário.

Tantos espectadores suplicam por algumas horas de anestesia das suas cansativas realidades, dias iguais submetidos a regras impostas por personagens ocultos no tabuleiro. Aquele que rouba o seu conforto é o mesmo que abusa do seu corpo quando você pega no sono. Quem está dormindo perto de um companheiro entorpecido e teso tem mesmo alguma dúvida que possa rolar alguma coisa?

A abusada adormecida talvez já saiba fazer o papel de vítima e conhece muito bem os instintos daqueles que estão querendo seu corpo desprotegido. Mas sábia mesmo é Luiza, que sabe quão maravilhoso é o verão da Espanha e agora faz todos repetirem seu nome sem mostrar o próprio rosto. Assim como fez Leila, mostrando que mesmo ausente você pode se fazer presente.

O cotidiano no Canadá e na Espanha são bem diferentes, mas só quem esteve por lá sabe disso. Vamos guardar segredo.

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