11.10.10

A violência é um fenômeno biológico. Um recurso e não uma opção.

Atitudes violentas são comuns na natureza, entre os animais de todas as espécies, sem distinções morais que categorizem tais ocorrências como boas ou ruins.

A caça que foi atacada pelos caçadores cumpriu sua função no mundo, pois permitiu que outra espécie tenha condições de perpetuar sua existência. Não houve julgamento divino que condene situações semelhantes. Eles acontecem e continuarão acontecendo inerente aos preceitos morais que nós, humanos, colocamos frente a esse impulso.

A convivência harmoniosa entre as espécies não exclui atitudes violentas. Pelo contrário, ela se faz presente instintivamente. Todo organismo tem em sua formação ferramentas para ataque e defesa. Não existe vida sem conflito. Sobrevive-se as condições externas. Lutamos ou nos defendemos para continuar no mundo.

Os animais também se organizam em coletivos. Nesses aglomerados existem hierarquias que distribuem tarefas e responsabilidades entre os membros. A coerência e manutenção dessa organização envolve não só conflitos entre os indivíduos do mesmo grupo, como também atritos com espécies ou raças diferentes. Todo desequilíbrio desperta nos organismos o sinal de alerta, acionam-se as glândulas, músculos e demais órgãos que todo animal tem em sua fisiologia para ataque ou defesa.

No ambiente selvagem, pode-se inferir que a violência ocorre em casos extremos. Os organismos lutam para continuar vivos. Não existe animal que se manifeste exclusivamente de forma violenta. Os indivíduos que desvirtuam e banalizam esse recurso são sumariamente excluídos do grupo.

Por mais distante que o homem urbano esteja (aparentemente) desse ambiente conflituoso entre as espécies, sua natureza não descarta tais manifestações. A linguagem oral e escrita também dão conta desse fenômeno. A dor psíquica é tão real quanto a física. O homem articula palavras e cria imagens também com intenções violentas.

Existem sentimentos envolvidos nessas atitudes. Formulas prontas sugerem que o amor seja um antídoto para o ódio. Todos temos capacidade e direito de manifestar afeto e contruir laços, mas nada garante que não seja necessário usar a força para preservar nossa existência nesse cenário. Crimes passionais e traições sugerem que o cultivo de um sentimento não eliminem o surgimento de outro. Levantam a bandeira da paz mas esquecem de solucionar os conflitos.

Segundo Freud, o sadismo é uma manifestação primitiva de defesa. Em determinado momento da formação psíquica do indivíduo constituiu-se uma estrutura que age na intenção de obter prazer através da dor causada em terceiros. É uma reação infantil, despida de preceitos morais, sustentada por uma urgência e ilusão de auto-preservação.

Como não podemos excluir esse comportamento e entendemos que seu surgimento, nos indivíduos dotados de razão, manifesta-se em diferentes tonalidades, criaram-se convenções. Algumas estão registradas nos códigos legislativos, outras são estabelecidas nos micro-universos. Elegem-se representantes desse recurso que respondem aos interesses de um grupo.

A humilhação verbal é punitiva da mesma forma como a agressão física. O ferrão do homem não se limita só aos punhos, mas também aos objetos que cria e aos frutos de sua produção intelectual. Os duelos existirão sempre, mas que a justiça esteja presente.

O desconhecimento das leis atenua, mas não elimina a responsabilidade daqueles que desrespeitam as regras. Em tempos onde a educação formal é deficiente para despertar senso crítico, devemos lutar para a disseminação igualitária desses parâmetros. Que a coragem prevaleça sobre a covardia.

(Dissertação sobre violência para a oficina de interpretação d' @os_satyros)

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