1.12.09

Não é de hoje que percebo uma das características que mais me distanciam daqueles que orbitam minha vida.

As primeiras lembranças são solitárias. Lembro do menino isolado que recusava a compania das outras crianças na hora do recreio. Cresci com uma estranha aversão a atividades em grupo, pessoas com seus assuntos desinteressantes que atrapalhavam minhas incursões em um mundo de fantasia onde só eu tinha acesso.

Da infância a adolescência lembro de momentos onde trocava sem culpa a presença de outras pessoas pelo silêncio da solidão. Encarava a compania alheia como uma ameaça aquele mundo tão bonito que nascia quando eu fechava os olhos. Tinha um prazer imenso em criar histórias dentro daquele universo, sem nenhuma restrição que censurasse a mais ousada das possibilidades.

Uma das formas que encontrei para registrar essas imagens que surgiam foi desenhando rostos e personagens que davam vida as histórias sem começo nem fim que emergiam do meu inconsciente. O destino me privou desses registros iniciais, mas cresci com essa necessidade de trazer imagens ao mundo.

Atravessei o início da maturidade desenvolvendo uma adolescência tardia. Quando soube enfim o potencial que tinha nas mãos me permiti ser exatamente o que queria. Representei com orgulho o papel que a vida me presenteou e após tanto tempo isolado me tornei a presença indispensável de um grupo de amigos onde amava reciprocamente. Eu percebi enfim que tinha voz para argumentar, para fazer as pessoas mudarem de opinião, para fazer minha existência genuína na vida de outras pessoas.

Repetimos padrões psíquicos ao longo de nossa história e passamos por fases onde a luz se intercala com as trevas. Esses períodos trazem sabedoria e consolidam nossa experiência em um mundo de opostos. Lembro exatamente do auge dessa época de reencontro e do momento onde tudo começou a escurecer.

Foi mais ou menos quando ficou claro qual era o desejo que guiaria o meu destino e a força que impulsionava minha coragem a enfrentar todos os obstáculos que eu teria no futuro. Todos os livros que eu lia só confirmaram qual deveria ser o parâmetro mais importante para decidir qual direção eu deveria seguir.

Mergulhei ao poucos em um abismo para enfrentar o dragão adormecido que me traz o medo infantil da impotência e ignorância. Dia após dia retornei para aquela condição de isolamento tão dolorosamente familiar. Com habilidades novas, dedicava não só meu tempo, mas também uma quantidade razoável de dinheiro para trazer a realidade um futuro que me parecia ser a única alternativa.

Nossos sonhos revelam apenas alguns aspectos dos desejos que figuram em nosso imaginário. Não conseguimos ter o plano geral de toda a potencialidade que queremos atingir até o final da nossa vida. Percebi nesse final de ano que pouco importa o que você quer, mas o que você faz para chegar lá. Não é o destino final que traz ensinamentos, é o caminho que você percorre para chegar até ele. É comum perceber ao longo da jornada que podem existir outros horizontes muito mais bonitos que àquele que se desejava em princípio.

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