1.11.02

rosebud
Eu admito que aprendi muita coisa passando por situa��es humilhantes, engolindo muito sapo e fingindo estar gostoso.
Sei que n�o teria o bom senso, que creio que tenho hoje, se n�o tivesse tomado muita pancada de quem se acaba em cultos religiosos em busca de um perd�o pras pr�prias culpas.
Ser o diferente, ser olhado torto, ser chacota de macunaimas com sono e falta de vontade de deixar algo melhor do que encontrou.
Para o atingido, depois de um tempo fica f�cil n�o perder a paci�ncia, mas nem sempre � menos doloroso, e nunca � esquecido.
J� pra quem age (exatamente como n�o gostaria que outros agissem com ele), basta vislumbrar a impunidade para deitar a cabe�a no travesseiro e apagar da mem�ria qualquer resqu�cio sobre o ocorrido.
Para quem assiste, a apatia sempre � a melhor (e mais confortavel) atitude, j� que estamos em um pa�s de merda, onde nada funciona, onde nada da certo.
Foi assim que eu assisti um deficiente ser obrigado a tirar sua pr�tese para entrar no Banco do Brasil.
Ele estava com seu uniforme de mec�nico, ia tirar somente R$ 200,00 de sua apertada conta, foi obrigado a entrar pulando com uma perna s� no Banco.
Sabe quem n�o deixou ele entrar com a pr�tese? Foi a porta girat�ria. Os funcion�rios j� estavam entretidos em suas pr�prias incumbencias. Afinal, � comum ver pessoas andando com uma perna s� por ai.
O seguran�a, apesar de negro (sim, eu cobro posturas mais maduras daqueles que tamb�m sofreram por diferen�as que n�o escolheram), estava achando tudo muito engra�ado. A senhora que estava na minha frente, apesar de achar tudo um absurdo, achou que por ter votado no Lula esse tipo de situa��o n�o seria mais t�o comum nos pr�ximos anos.
Obrigado dad�, por ter me feito nascer um gauche. Obrigado mesmo, por eu notar que o motivo que me levara ao banco podia esperar mais alguns dias, que perder um dia de academia n�o teria mal nenhum, que esperar 2 horas pra prestar depoimento sobre o ocorrido n�o seria tanto tempo, que dedicar uma tarde inteira pelo que eu acredito ser o certo pode ser ainda muito pouco.

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